terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Compás - O Fandango

A propósito de uma música que quero partilhar convosco, inicio aqui um conjunto de histórias que terão como tema o Flamenco, apresentado não na perspectiva do vivido, mas da didáctica: o que tenho aprendido eu sobre o Flamenco?

A origem… O que distingue os palos - porque é isto uma Rumba e aquilo uma Bulería… O traje, os adereços… O cante, o baile, o toque… Ayayayyyyy…

Pois é! É um mundo fascinante, mas muito difícil… Quanto mais leio sobre o assunto, mais baralhada ando. Mas vou escrever na mesma. Quem sabe um dia destes um Sábio desta arte não leia as minhas histórias e resolva dar-me uma ajudinha? ;)

Em Fevereiro deste ano, as Araquerar rumaram à Capital para fazer uma workshop com “El Maleno” (baile), “El Pulga” (toque) e Joaquín Moreno (cante), na Pró.Dança. Duas tardes a bater palmas, porque fazia parte da aprendizagem, e porque eles mereciam, claro!

No final daquele fim-de-semana, não sabia fazer a pequena coreografia que nos ensinaram (ainda hoje não sei…), não sabia “descansar” a preparar “a subida” para o “remate”, como o Maleno… Mas uma coisa vos garanto que aprendi: “En el Flamenco, lo más importante es lo compás!”, que nos disse o Pulga logo no início.

Os diferentes estilos tradicionais do cante flamenco designam-se como “palos”, que são classificados de acordo com o seu compasso rítmico, a sua jondura (intensidade), o seu carácter festivo ou sério, a sua origem geográfica, os temas do cante…

O compasso é uma unidade, frase rítmica, com acentos específicos. Certo? Ora isto significa que, por exemplo, no Tango, que foi o que aprendi e por isso é mais fácil explicar, falamos de um compasso de 4 tempos, onde os tempos mais fortes – acentos - são o primeiro e o terceiro. A frase rítmica completa é de oito tempos e as palmas podem acentuar tempos diferentes ou em contratempo… Mas isso, fica para outro dia… Ufa! Agora vou descansar um bocadinho… Como o Maleno… Agarrada à bengala, a sapatear até ao desespero (meu, claro!, que ele parecia-me bem…).

Os palos organizam-se em compassos de 3, 4 e 12 tempos. E em função dos critérios atrás apresentados, organizam-se em famílias. Hoje vou escrever sobre essa grande família que são OS FANDANGOS. A origem do Fandango é curiosa porque não surge com o Flamenco, mas aparece na História como um baile popular, expressão do Folclore da Península Ibérica, que terá sido “aflamencado”.

Existem referências a uma forma de baile, com semelhanças com o Fandango, já na Grécia Antiga e Império Romano, onde seria dançado com uma espécie de castanholas. A sequência harmónica descendente (lá menor, sol maior, fá maior, mi maior), típica do Fandango, era já utilizada no Barroco. Hã??? As coisas que eu sei! (Deste parágrafo, por incrível que pareça, o que eu entendo menos mal são as notas de música!!)

Nos finais do século XVIII, era uma dança popular em diferentes regiões de Espanha, País Basco e Portugal. No início do século XIX, a Andaluzia “aflamenca” o Fandango, que hoje constitui um dos mais importantes palos do Flamenco, com inúmeras derivações.

O Fandango é um palo melódico, de movimento vivo, de compasso ternário, com versos octassilábicos e que utiliza com frequência as castanholas. É o que mais variações apresenta, provavelmente. Vou apresentar a seguir as diferentes derivações do Fandango. A estrutura que me pareceu mais simples. Mas, tal como o Fandango, os estudiosos do assunto também variam um bocadinho entre si. Ora aqui vai:

  • Fandangos de Huelva: Locais e Personalizados;
  • Fandangos de Málaga: Malagueñas, Rondeñas, Jaberas, Verdiales;
  • Fandangos de Levante: Granaínas, Mineras, Cartageneras, Tarantas, Tarantos.

Sobre as diferenças entre cada um deles… Bem, fica para outra história! Agora, vou descansar. Pego na bengala e sapateio… :D

Deixo-vos com a frase rítmica base do Fandango – LO COMPÁS!

1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3

1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6

x x x x x 0 x x x x x 0 (Palmas)


E agora, é simples! É só ouvir a música e bater as palmas! A compás! Clap, Clap, Clap….

Vicente Amigo – Mensaje. Liiiiiiiindo… O Fandango! Olé!!!






2 comentários:

Anónimo disse...

"Os portugueses adoptaram o fandango dos espanhóis no tempo da dominação filipina. A dança espanhola teria, por sua vez, origem árabe, de que os meneios femininos do fandango setecentista seriam um resquício."
ver o site http://www.attambur.com/Recolhas/Estremadura/Dancas/fandango.htm

Fandango português
http://www.youtube.com/watch?v=n6KapX1hgHg&feature=related

Fandango espanhol verhttp://www.youtube.com/watch?v=oFOcR-8M45s

Fandango de huelva
http://www.youtube.com/watch?v=qyOionOKr-E

Fandago basco francês
http://www.youtube.com/watch?v=ExnEOkM9zgA&NR=1

Fandango brasileiro
http://www.youtube.com/watch?v=HViH7lnfuHk&feature=related

Ai está, mas que coisa dificil de acertar...no compás...!
Será preiso Duende ou é apenas matemático como as sevilhanas?

fumante disse...

No pouco que consegui ler do teu blog, uma coisa se sente assim... praticamente, desde a primeira palavra: o teu amor ao flamenco. É espantoso a forma como o pareces sentir, como o incorporas nos teus pensamentos e atitudes, como referes as mudanças que teve na tua vida. Para mim, é até invejável. É-o porque ainda (atenção ao "ainda") não descobri uma vocação intríseca como esta que pareces ter. Algo que se faz e se obtém muito prazer, vontade de conhecer mais, investir, insistir, resistir, dedicar...
Parabéns Payita!
OLÉ!