sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Todo Tiende


Esta música "
Todo tiende" dos ODB, na versão ao vivo do álbum Techarí, gosto de ouvi-la bem alto, para desespero (imagino!) dos meus vizinhos... É absolutamente espantosa... Em tudo! Desde os sons mais orientais, que descobri serem inspirados num tipo de música tradicional da região do Punjab e que se designa por Bhangra... Aos ayayayyyyy com duende de Martirio... Aos "arranques" súbitos da música que me deixam aos saltos no meio da sala! E a letra... Tudo e tudo!!


Sintam-na com fuerza!! Olé!!!




Mendigando eternidades
mendigos piden a mendigos
lo ke no tienen ni pueden darse.
Traspasar los siete mares
espejismo tatuado
laberinto de conciencia y nacen cantes.
Ser errante
bandolero de galaxias y fronteras infinitas
cuanto viaje!!! cuanto viaje!!!

Dueleleré duelelakínlakínderé
Duelelakín duelelakínda duelelakínderé
Duelelelakínda duelelakínlakínderé
Ayyyyyy!!!!!!!!!

Coge las riendas al vuelo, aspira, mira,
tira desde ras del suelo, lo ke de vida
corazón ke palpite, sangre ke se agite
y quite mierda ke te impida movimiento y movida

Temperamento ke crezca por dentro
intenso y lento como fuego ardiendo
al cien por ciento mente en blanco, puño al viento
siéntelo como lo mueve, navegando, zig zag sentimientos
elementos desatan momentos akí y así, para más intentos.

Falta esperanza
¡ avanza !
a pasos de gigante más guerra ke avanza
el mundo está loco, elijo hablar y grito
¡levanta!
¡levanta!
Quien no sabe el principio del final
cristales rotos cada mañana
gritos y ritos, causas, efectos, efectos y causas
Siempre tiende-ende-ende, todo tiende-ende entiéndeme!!
pal lao ke más nos pesa-esa o el lao ke más nos duele-ele
Algo tiende-ende ay!!! siempre tiende
veinte gramos pesan más ke toa mi suerte.

Música lanzando llamas recuerda miseria mordiendo tajante
aleja la hoguera, la rabia, el impacto, la gloria por unos
instantes
pulmones cansados recogen oxígeno, vida, revelan talante
mutantes, elásticos, tácticos, críticos, prosicosónicos, bruto
diamante akí.

Dueleleré duelelakínlakínderé
Duelelakín duelelakínda duelelakínderé
Duelelelakínda duelelakínlakínderé
Ayyyyyy!!!!!!!!!

Mendigando eternidades
mendigos piden a mendigos lo ke no tienen ni pueden darse
Mendigando eternidades.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Mundo ao Contrário


“A minha filha mais nova foi internada quando tinha apenas 24 dias de idade. (…) A raiva irracional, a explosão de sentimentos nós guardamos bem cá dentro. Quando tudo acabou em bem, o meu homem disse-me: “um dia, sentamo-nos e choramos por isto, agora não temos tempo.” Nunca o fizemos. (…) Para onde foi o meu choro? Para onde foi o meu grito? A lado nenhum. Povoam os meus piores pesadelos e vivem cá dentro. (…) Deviam pensar em colocar famílias ciganas na gestão dos hospitais, no acolhimento aos doentes, no apoio às famílias. Seria um SNS mais humanizado, isso de certeza.”

Retirado de um jaleo de Catizzz em “A minha família cigana”, uma história penada em 14 de Outubro de 2008. http://pachadrom.blogspot.com/2008/10/minha-famlia-cigana.html


A dor sentida de dentro para fora. Vivida de fora para dentro. Ao contrário…

Perante a iminência da morte, ensinaram-nos que temos de ser fortes. O Outro tem de ser combativo. E precisa de ler isso nos nossos olhos. Para resistir. Para viver. Precisa de acreditar em nós. Que nós acreditemos nele. E por isso metemos a dor cá dentro. Ao contrário…

Morreu-me uma pessoa. Especial para mim. E para muitos outros. Morreu. De forma inesperada e violenta. Como se estivéssemos a ver uma longa-metragem, com o dedo a pressionar o botão do forward: Fim! Já cá não está. Sem que tivéssemos aquela oportunidade de dizer “mas a que propósito?”…

E o que me apeteceu fazer nos dias em que esteve doente foi chorar, gritar, praguejar o dicionário completo do melhor calão português, partir coisas, arrancar os cabelos… E não pude fazer isso. Porque o Outro tem de ser combativo e acreditar em nós… Porque foi assim que nos ensinaram.

A frase mais repetida naqueles dias tristes era: “viver um dia de cada vez”. Uma frase que ouço repetidamente dita pelos ciganos. Que têm mudado muito os seus usos e costumes. A sua maneira de estar perante a doença e a morte dos seus familiares tem-se mantido como das mais significativas tradições.

Os ciganos regem-se por determinados princípios básicos, entre eles o respeito e a veneração pelos mortos, o não abandono dos doentes. Não confiam no sistema de saúde, com a mesma confiança que depositam na incerteza com que vivem o dia-a-dia. Um dia de cada vez…

O internamento hospitalar é de um grande sofrimento para os ciganos. Não só porque os afasta da pessoa doente, mas também porque corta com a rotina familiar. E a comunidade cigana organiza-se e estrutura-se pelos laços familiares. Pelos afectos.

Quando uma pessoa cigana é internada num hospital, toda a comunidade se multiplica em manifestações de afecto pelo doente. Deslocam-se ao hospital e aí permanecem. Invadem o hospital a qualquer hora, em desrespeito pelo horário estabelecido, porque assim demonstram ao doente o seu total apoio e solidariedade, que nenhuma norma é capaz de conter.

Ficam próximos, para que o doente sinta a sua presença e saiba que não está só. Levam comida. Desconfiam da comida do hospital. E nunca levam flores. As flores são um símbolo de morte.

Hoje há uma outra compreensão destas questões pela comunidade hospitalar, questões importantes para todos os doentes e não só para os ciganos. Alteraram-se regimes de visitas, permitem-se refeições fora das dietas hospitalares. Ainda assim, continuamos a não ver mediadores ciganos nos hospitais que facilitem, que expliquem, que criem pontes de comunicação entre culturas. Entre pessoas. E a comunicação existe nos dois sentidos...

Com os mediadores, é possível não só gerir conflitos entre as famílias e o pessoal hospitalar, como sensibilizar a comunidade cigana para os problemas de saúde. Não é fácil explicar-lhes a importância da vacinação ou a necessidade de ir ao médico quando as crianças estão com gripe.

Não basta ver a pessoa e a família. Temos de olhar também para sua cultura, que se manifesta quer na expressão dos seus cuidados ao doente, mas também na forma como entendem o sentido da vida. Para um cigano não existe uma filosofia de morte, mas um esquecimento propositado da sua possibilidade. Nascem para a vida e não para morrer. Recorrem aos serviços de saúde em situações limite. Nunca pensam na morte. Não se fala do assunto e muito menos do morto.

Por isso, a notícia da morte de um cigano é recebida com grande choque e grande desgosto. Os velórios e funerais são exuberantes e dramáticos. A dor é exteriorizada através de gritos e choros. Chegam a rasgar as roupas...

Acreditam numa vida para lá da morte, que o mundo dos mortos está acima da dos vivos. Os mortos têm poderes sobre os vivos e por isso respeitam-nos. Acreditam que o espírito do morto continua a existir e que pode voltar, provocando situações incómodas e prejudiciais, através de doenças, sonhos e visões.

Os funerais processam-se de acordo com o culto religioso que praticam. Não se poupam a despesas, o que pode provocar algumas situações aflitivas nas famílias com baixos recursos económicos. Compram as mais belas flores e as velas são inúmeras.

As crianças participam nos rituais fúnebres para aprenderem e darem continuidade às tradições. Durante um período de pelo menos quinze dias não vão à escola. Este facto tem colocado algumas questões junto da comunidade educativa. É preciso explicar e explicar o significado do luto junto de professores, educadores, ministério... O que tem feito o Nómada tantas e tantas vezes... Onde estão os mediadores?

Nos ciganos, após a morte de um familiar há como que um corte com o defunto. Muda-se a mobília da casa, às vezes deita-se mesmo fora os móveis, não se exibem fotografias. A festa, a música acaba. Não se liga a televisão. Os casamentos e baptizados ficam adiados ou realizam-se longe da família. Não se fala do morto.

E quantas vezes, nós que trabalhamos com crianças e famílias ciganas, adaptámos actividades para respeitar um luto? Lembro-me de uma situação angustiante. Numa exposição do Espaço Aberto, há muitos anos, um álbum de fotografias para quem o quisesse ver. As famílias ciganas presentes. Duas chaborilhas indignadas, em profunda consternação, a ameaçar que chamavam a família, porque tinhamos incluído uma determinada fotografia no álbum. Eu, atónita, sem perceber... A perguntar porquê. Elas a explicarem. A fotografia foi retirada. As ameaças acabaram, os ânimos sossegaram. A exposição aconteceu, até ao fim. Às vezes, basta fazer a pergunta...

Como em todos os processos de luto, seja qual for a cultura ou credo, o luto é um processo pelo qual se procura uma nova rotina, uma nova dinâmica, uma nova vida. A forma que assume e o tempo que dura é que varia. De religião para religião, de cultura para cultura, de família para família, de pessoa para pessoa.

O luto para as pessoas ciganas varia em função do grau de parentesco, nunca sendo menos de quinze dias e podendo ir até ao fim da vida, no caso das viúvas. Durante o luto, não se lavam, a barba e o cabelo crescem, no caso dos homens, cortam o cabelo, símbolo de sensualidade, no caso das mulheres. A roupa é negra. Os homens usam chapéu. As mulheres, lenço.


O ritual de morte e de luto é muito vivido pelos ciganos, o que os coloca perante situações complexas. São estes rituais que contribuem tantas vezes para a construção de inúmeros esterótipos e preconceitos. São estes rituais que lhes estruturam as rotinas, mas que simultaneamente os colocam perante situações de dificuldade económica e de incompreensão pela sociedade dita "maioritária".

Hoje, algumas coisas mudaram. Os jovens ciganos já não seguem com estrito rigor alguns dos rituais. Era o que me dizia uma viúva, uma vez, mostrando-me por debaixo do pano preto, o cabelo rapado. Os hábitos de higiene têm sofrido alterações. Não mudam de roupa durante o luto, mas tomam banho.

Ainda assim, na sua essência, a forma como encaram a vida e a morte mantém-se. E nós, que trabalhamos e convivemos e construímos redes de afectos com as pessoas ciganas, continuamos a alterar actividades, continuamos a retirar fotografias. Porque o respeito e a compreensão pelo sentir do Outro é mais importante...


Morreu-me uma pessoa. No dia em que morreu, não me apeteceu tomar banho, nem ouvir música. Parecia-me uma falta de sensibilidade, como se estivesse a ir para uma festa e não para um velório. E percebi... Não é porque considerasse que incomodava o morto. Foi porque me incomodava a mim... Pensar e fazer o que faço e penso todos os dias. Porque era um dia diferente.

Morreu-me uma pessoa. E o que me apetece fazer é chorar, gritar, praguejar o dicionário completo do melhor calão português, partir coisas, arrancar os cabelos… E não consigo fazer isso. Porque não me ensinaram como fazer isso… Mas na nossa cultura podemos olhar fotografias, lembrar e falar dos mortos. Que é o que faço agora.

Morreu-me uma pessoa terna. E eu pensava muitas vezes que ela deveria ser mais firme em tantas coisas… Que é o que costumamos pensar das pessoas ternas. E agora o que me lembro mais dela é da TERNURA… No que dizia e no que fazia.

E recordo tantas coisas desde que a conheci. As Festas do Avante, os Natais, as passagens de ano. Os momentos alegres, os momentos tristes. As muitas vezes que fui injusta e impaciente. As conversas difíceis sobre a vida de cada uma… Sou a “segunda mãe” da filha dela, a “tia emprestada” do filho mais novo… A casa sempre aberta. Disponível para nos receber. Como as casas ciganas. Fossemos quantos fossemos! E às vezes éramos muitos… A preocupação connosco, estamos bem?

E as festas de pijama entre primos. Os telefonemas, para lá e para cá, para ver se está tudo bem, se os lacorilhos ainda não partiram a mobília… E do outro lado do telemóvel, a música enquanto não me atendia: “O Mundo ao Contrário”, dos Xutos, a lembrar concertos na Festa. E eu a brincar, a dizer-lhe: “não atendas, estava a curtir a música”. Ela a rir…

… “Se gosto de ti, se gostas de mim, se isto não chega, tens o mundo ao contrário". E não chegou… E o mundo está mesmo ao contrário!


(Vou fazer como os ciganos e não te digo o nome. Mas esta história é para Ti. Se o deus católico existir, estás lá em cima e sabes que vai correr tudo bem. Temos uma família cigana, estamos camelados uns nos outros. Se acontecerem reencarnações, reencarna depressa e vem para ao pé de nós, que temos saudades…)


domingo, 25 de janeiro de 2009

Solo quiero caminar...

Conheço menos do que gostaria, este Grande Senhor do Flamenco: Paco de Lucía. Solo quiero caminar é provavelmente a minha música preferida. E quase me convenço que o Tango é o meu palo de eleição. Quase...

Deixo-vos com dois vídeos. O primeiro numa versão bailada, flamenco de fusão, mas com um som péssimo. Ainda assim, vale a pena ver. O segundo, o Paco ao vivo, com Duende. Olé!!!




domingo, 18 de janeiro de 2009

Espaço Aberto, Espaço de Afectos.

Porque este tem sido um caminho construído por muita gente, aqui ficam alguns testemunhos de pessoas que com passitos nómadas têm resistido à formatação social, surfando a mudança, sentindo com força, aproveitando os corredores de liberdade.

Anónimo

Caro M,
Tás à vontade. É da maneira q alguem usa os computadores. Boa Pir... Boa Informática!

Abraço,

Pedro.

Abraço a todos os barões, ramos, fonseca, semedo, moreira e todos os outros que tive o prazer de conhecer e acompanhar. Obrigado! A nossa convivência foi (e é) a minha riqueza.Eliminar


Pois é, o EA para mim continua mesmo, ontem já de noite passeava o canito quando fui supreendido por 3 amigos nossos, vinham apressados e com ar preocupado.
Perguntei se estava tudo bem... mas havia um problema... tinham um magalhães mas aquela merda nao gravava os videos e queriam meter musicas e aquilo não tinha ligação à internet, pois a internet é a pagantes que isto dos computadores de baixo custo dão sempre milhoes a ganhar a uns quantos.
pedro desculpa ter entrado no teu atelier, mas não estavas por perto e sabes como é que eles são..aquilo tem de ser ..JÁ! senao perde a piada :)
tentei gravar os videos mas a merda do computador do socrates não vale mesmo um caracol. Ficou prometido que os ajudava a piratear musica para o magalhães e marcámos atelier de pirat...INFORMATICA para um outro dia.
bjs


M


É tão interessante ler-vos! percorrer as palavras e senti-las! Apetece-me dizer... as mudanças acontecem porque alguns de nós continuamos a 'dirigir-nos à sala do fundo'! Fundo das coisas e ao fundo das pessoas, porque... simplesmente porque sabemos o que é gostar e construir! Em espaço aberto é isso que eu espero que todos continuemos a fazer... É bom conhecer-vos!!!! A vidinha das pessoas tal qual ela é!

Sãozinha

“Dirige-te à sala do fundo”, assim estava escrito num placard à entrada das instalações do Espaço Aberto. Segui as indicações. Percorri o corredor e ao entrar na sala apresentei-me às colegas: a Débora e a Susana (a quem aqui deixo uma palavra especial de apreço). Iniciava assim o meu primeiro dia no EA.
A minha passagem pelo Espaço Aberto, espaço físico, teve uma duração de nove meses. Um espaço de tempo curioso, tempo necessário para a gestação e nascimento de laços.
Foi, ainda, um espaço de reencontro com jovens que conheci há alguns anos atrás, quando trabalhei na Bela Vista pela primeira vez. Crianças, que agora são adolescentes e adolescentes que agora são adultos e, alguns deles, já são pais. E foi uma sensação curiosa, reencontrarmo-nos ao fim de todos os anos que passaram e partilhar histórias e momentos.
Por tudo isso, haverá sempre em cada um de nós um espaço aberto aos laços que ali foram criados.

LB

Parei em cada foto... Acompanhei mais ou menos de perto muita coisa. Tanto trabalho e investimento! Tantos sorrisos! Desejo, para bem de todos, que os espaços continuem abertos, sempre! Fechou-se uma porta, é verdade. Segundo a tradição, algures terá sido aberta uma janela. Resta encontrá-la!

Catizzz

EliminarBlogger

Porque não podemos ser crianças para sempre?
Porque não podemos continuar para sempre a acreditar que tudo é magia e encanto? Sim, porque mesmo na pobreza e na fome as crianças têm esses dom, o dom de quando em vez, entrar num mundo só delas onde tudo é belo, onde o céu se mistura com mar e o mar com os sonhos, onde os rios são de ondas coloridas…
Acredito que cada um de nós guarda uma pequena criança dentro do peito, e que de quando em vez, salta para fora e nos faz rir sem controlo, correr sem destino e gritar sem querer saber quem nos ouve…

Mas o que nos faz perder isso? O que transforma os nossos gritos em gritos mudos?

São eles!!! Esses outros que vivem vidas encenadas, neste drama, o palco da vida!
Dizem-se donos do conhecimento mas do maior conhecimento que é amor, pouco ou nada revelam saber!! Decidem, fazem leis e decretos, julgam-se donos da Terra!! Mas estão cada vez mais distantes de tudo e de si mesmos!!

Tenho lutado, um pouquinho, para tentar remediar isso mas existem dias que esses outros me deixam triste e cansado. Felizmente, para compensar, existem outros momentos, como ver este blog, ler estas histórias, de Bravos Guerreiros que se unem e lutam lado-a-lado.

A eles, a ti Vanda, eu aplaudo de pé.
A todos, eu grito: Obrigado!!

E Vanda, chefinha, por seres como és, é um orgulho para mim conhecer-te!!
Nunca deixes de lutar e acreditar, mantém essa tua chama acesa, mesmo que a tentem apegar!!!

Porque como disse uma pequena menina;
“Ayyy… Então pra quêi? O mundo vai acabar…!!!”.

É verdade mas até lá ainda temos muito para dar!!

Beijo

David (o tomsawyer)

PS: sempre que precisares de ajuda para vender as tuas “t-shirts”, diz…


O que é preciso é continuar a ABANAR A ANCA e que a MALTA não desmobilize, o EA tem continuado para mim, que ainda vou encontrando a vizinhança todos os dias,e quando não os encontro eles fazem questão de me ir tocar a porta :)
A LUTA CONTINUA!!!!

Anónimo


O Espaço pode ser fechado, o território até pode ser reinventado e ocupado, mas uma certeza tenho, essa ninguém a tira! Os afectos, as emoções, a felicidade, as alegrias e as lágrimas são só “nossas”. Por muito despotismo que possa existir, há coisas que felizmente ainda não podem tirar, refiro-me à nossa capacidade de dar e receber. Falo da nossa persistência, aquela de todos os dias, quando pegamos nas nossas “armas” e lutarmos pela indiferença. Olhamos para o lado e verificamos que ainda há muito a fazer, por isso, não desistimos! Apesar dos obstáculos, apesar dos abismos… -Hasta siempre, Espaço Aberto.

EC
Duo Dinâmico

Anónimo

Daqui a uns anos (poucos), estaremos a reinventar um novo Espaço Aberto (II), continuando nas sendas das margens, que a força das águas teima em empurrar para os lados...! É apenas um ciclo, ou melhor, um parenteses ... ) que se fecha à espera que se abra outro (...

Myrna


Eliminar

Estou de lágrima no canto do olho...

Maria (para os amigos) do Cio


Bem... estou sem palavras...estou sem voz... estou sem vontade!
O Espaço Aberto, que me foi dado a conhecer pela Vanda e pela Myrna, é e será o meu primeiro amor, foi lá que estagiei e que dei os meus primeiros passos, ao lado de uma equipa recém-criada: Débora, Su, Miguel, Pedro.
Belos tempos... de angustias, de dúvidas, de ansiedade, de reagir e agir mais do que reflectir!
Mas tinhamos tempo para pensar, tinhamos tempo para nos encontrarmos e para estarmos!
Agora já estou longe... Longe do Espaço Aberto, mas continuo na área social e comunitária, e espero que apesar de longe, continue perto das pessoas que me viram dar os primeiros passos nesta coisa do social e que me ajudaram (e ajudam) a crescer!
Digo ajudam a crescer, porque muitas vezes recorro ao que fizemos no espaço, aos bons exemplos e tudo e tudo, para justificar uma opção que tenho de tomar no meu actual trabalho! O Espaço Aberto e a Bela Vista serão sempre o meu primeiro amor. Sem dúvida.
E custa-me acreditar que esta dinâmica tenha um fim. Quando saí da Bela Vista, já havia alguns "ecos" que referiam que com o fecho do CAIC, deveria acontecer o mesmo ao Espaço Aberto. O Formal estava a invadir os poucos espaços Informais e Não Fomais...
Mas acredito nas pessoas que estão por detrás de todo este sonho e caminho!
ACREDITO, sabem porque? Vocês, Débora, Vanda, Filipa, Susana, Pedro, Luís, Conceição, não imaginam as vezes que eu vos cito actualmente... Não imaginam os bons exemplos que eu dou do que fiz com vocês (e com outros que de momento não vou citar)!
Neste momento, não podemos deixar que os ecos nos invadam e nos parem, temos de prosseguir e encontrar novas formas de agir... Eu acredito que é possível, e se o acredito é graças a vocês... por isso não me deixem ficar mal!!!

MARIA do céu



Ainda não é tempo de chorar os mortos...

Também eu me estreei no Espaço Aberto. Os nervos, as dúvidas o contacto com a realidade depois dos livros, das conversas de café, das convicções criadas. E que viagem tem sido... Embarquei nesta aventura em Agosto de 2005. E fui conhecendo através das memórias dos novos colegas,de fotografias, fotografia,dos obrigatórios relatórios essa ideia desse espaço de liberdade e partilha. Quase que uma ideia poética do que é isto de trabalhar com o outro... A poesia a ocupar o seu lugar na rua!!!
E depois um espaço novinho em folha, uma história para continuar a escrever... E jesus, a responsabilidade de cumprir, de não deixar morrer o sonho.
E a medo lá fomos avançando, a equipa maravilha...Um dia depois do outro, um mundo de gente pequena a entrar nas nossas vidas, agarrados ao portão (vinham às carradas). E assim fomos fazendo, descobrindo, experimentando, arriscando, fazendo um Espaço Aberto com os miúdos - com os personagens que foram habitando esta história. E este Espaço Aberto era também novo, diferente daquele das memórias dos colegas,das fotografias, e por vezes a crispação, a incompreensão, ai os camadões de nervos que apanhei...
E entretanto uns foram partindo, outros foram chegando, novas ideias, novas vivências... e a mudança... a inevitável mudança, a modernidade(?),do Magalhães (como na terra da Gabriela, a do cravo canela, onde os personagens iam repetindo .." o progresso tá chegando!!"). E a viagem trouxe-nos a uma nova encruzilhada, (qual Cabo das Tormentas ou quiçá da Boa Esperança). Cabe-nos contorná-lo e descobrir novas forma de continuar a fazer aquilo em que acreditamos, para que de vez em quando cheguemos a casa com a sensação de que talvez tenhamos dado um pequenino contributo para a mudança, mas da boa!!!

P.s. - Não me apetece nada o papel de undertaker!

Susana


E, estranhamento ou talvez não, o espaço que a AMUCIP sempre quis abrir num bairro, para as "suas" crianças e jovens, se chama apenas ESPAÇO! Um espaço cuja dimensão física e temporal são indissociáveis!
E agora recordo o filme MOMO (que fui ver com o meu filho quando tinha 4 anos e de que ainda hoje se lembra com ternura), que também aconselho a ler o livro (do Michael Ende, o mesmo autor da História Interminável) com o mesmo nome, que nos mostra, pela mão de uma criança-animadora de 8 anos, moradora na rua, várias coisas essenciais à Vida em comunidade, entre as quais eu destaco: "o tempo é vida e a vida mora no coração". E falo aqui da dimensão tempo como complemento do espaço (de que se fala aqui), porque é um espaço humanizado onde se desfruta o tempo lento, constante e persistente da construção das confianças necessárias para, não apenas a intervenção social e educativa, como também necessárias para o desenvolvimento do ser humano, seja ele criança, jovens, adulto ou idoso.
E quem viveu essas dimensões espacio-temporais com Duende, nunca mais volta a ser a mesma pessoa!
Bem haja a TODA a EQUIPA do ESPAÇO ABERTO que se deixou atravessar e encantar por essa dimensão simbólica que lhes permite criar esse espírito em qualquer lado!

Myrna


Será que é por isso que estás triste? Mas deixa-te que te diga mais uma vez: Escreves tão bem!
E que descobertas tenho feito desde que conheço gente 'apaixonada' pela cultura cigana. Faço parte de uma parte de uma sociedade, que não conhece o Espaço Aberto. Ou melhor, não conhecia. Entrei pela primeira vez no Espaço Aberto para ensaiar com as Gipsy Stars. Nascida e criada na Linha, numa família atipica e de forma alguma 'queque', cresci longe destes bairros. Sabia onde estavam, passava por eles, tinha a solidariedade politicamente correcta ou virava a cara quando viu algo mais dificil de entender. Um dia dizem-me que vamos ensaiar no Espaço Aberto na Bela Vista. Nem sei se tive receio ou se me limitei a ir como fui a tantos sitios inesperados na minha vida profissional. Entrei e lá estavam elas a prepararem-se para dançarmos para a presidente da Câmara de Setúbal, payas e ciganas. Timidas ambas, eu e elas, poucas palavras trocámos. Não posso deixar de as olhar com olhos de mãe, e também de mulher mais velha e que teve tantas oportunidades desde pequena. Este grupo Araquerar, um caso estranho na minha vida, é para mim um 'espaço aberto' que me levou até ao outro sem imposições, sem o politicamente correcto, ao sabor da música e da dança. A viver... outras experiências para lá do meu grupo. Obrigada!

Isa


Quero escrever...tenho de escrever...mas pela primeira vez nem sei que dizer.... Cheguei a este projecto na fase dos conflitos com a vizinhança (pois claro, eu e a minha estrelinha..) e passei a integrar a fase que ate hoje profissionalmente mais me enriqueceu e na qual percebi que era isto que queria fazer, era aqui que queria estar... Por se adivinhar um desafio, por não ser fácil, pelo meu lado naife (que tento preservar, com orgulho) que me faz acreditar que tudo é possível. Recordo como se fosse hoje a carrinha cheia de balões, a música de um gravador, com um megafone colado, eu a Telma e o Ivo a divulgarmos o Espaço Aberto itinerante, nas ruas do bairro da Bela Vista. Tudo o que se seguiu foi uma aventura mágica, recheado de pessoas que acreditavam no que estavam a fazer, o contacto com as pessoas, o estar no terreno, as crianças, a entrada em bairros nunca conseguidos... Enfim isto tudo para dizer que pode vir mudanças no sistema educativo, pode vir vizinhança xenófoba, assaltos , mas desde que existam pessoas que acreditem neste tipo de respostas alternativos, e que tenham vontade de trabalhar nelas... O Espaço Aberto pode sim fechar, mas apenas o Espaço físico, porque aqueles que nele acreditam vão continuar a trabalhar nem que tenham novamente que voltar para rua encher um carrinha de balões e diz estamos aqui... SOMENTE PORQUE VOCÊS EXISTEM...

Filipa - Das Neves


Espaço Aberto... a minha primeira aventura no mundo do social... Inquietação, curiosidade, receio, vergonha, tantos sentimentos a pairar...
Bairro amarelo, azul e rosa, três bairros iguais mas tão diferentes entre si...
Bairro azul... problemático, violento, impenetrável... mitos, não passavam de mitos... Maioritamente cigano.
Primeiro dia... Desconfiança... era o sentimento dominante... dos pais às janelas, dos jovens sentados nos muros do bairro, das crianças nos vãos das escadas... ninguem se aproximava... fizemos nós mesmos capoeira, o Pedro, a Ana Maria, a Filipa e o Nelson com a máquina de filmar e de fotografia ao ombro.
Segundo dia... alguns mais audazes aproximaram-se devagarinho e perguntam:isto é para nós? (seria possivel que alguém se tinha lembrado deles?... ) Ainda hoje lembro-me da indignação daquelas crianças por alguém se ter lembrado deles... os pais, esses, continuavam a espreitar pelas janelas, e os jovens continuavam sentados nos muros que separam o bairro do resto do mundo...
Afinal éramos estranhos que levavam brincadeiras para as crianças do bairro...
À capoeira seguiram-se os fantoches, os batuques, as histórias,...passamos de estranhos a conhecidos, a professores,...
Bairro rosa, tão perto e tão distante... Maioritariamente africano.
Batuques, sem duvida a activdade preferida.
Mais receptivos, mais colaborantes, mas com a mesma sede de fazer coisas, coisas diferentes...
Amarelo, pátio da biblioteca...um grupo mais heterogéneo e com algumas raízes ao projecto. Mais dificeis, mais desafiantes,...
Chico, João Paulo, Duda e o seu cão Puma, Daniel,... onde estarão?
Ciganos, africanos, lusos, todos se misturavam para tocar e dançar ao som dos batuques...
Crianças, simplesmente isso, não passavam de crianças de sede de aprender e experimentar coisas novas.. esquecidas nos vãos das escadas...

Telma


Mais uma vez as lágrimas a escorrem-me pela face, comovida pela forma como escreves, com sentimento (com Duende) sobre os espaços e tempos encontrados, sobre os trilhos desbravados, com as pessoas que fazem a diferença porque se encantaram com a descoberta do Outro, com a capacidade de “escuta sensível” e de “improvisação educativa”, a essência da Educação Informal…
Sobre este tipo de educação (informal e não formal) e suas potencialidade e sobre os antecedentes que deram origem ao espírito do Espaço Aberto, pela apetência da comunidade da Bela Vista em participar em espaços desta natureza, convido-vos a ler um artigo que escrevi em tempos idos - 1994 (e surpreendentemente, em tempos de “cavaquismo”) a que chamei “Alguns passos de dança com ciganos”, nos Cadernos de Educação de Infância nº31, Lisboa: APEI.
Nesse artigo explico a origem do “Projecto de Alfabetização Informal e Comunitária”, no âmbito do CAIC da Bela Vista, entre 1992-1995, com as professoras do 1ºCEB Cristina e Anabela, e as 30 crianças e jovens de etnia cigana, entre 6 e 16 anos, irmãos das 50 crianças de educação pré-escolar do CAIC, que partilhavam o mesmo espaço físico e suas dinâmicas educativas e pedagógicas.
Infelizmente, pelo andar da carruagem, acho que regredimos imenso a nível de propostas educativas e de intervenção social… Também dou comigo a chorar de indignação, quando me apercebo que andámos para trás…

Myrna

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Um Espaço Aberto... Fechado.


"Um Espaço Aberto... Fechado? Não, porque o Espaço Aberto nunca foi um espaço físico. Foram as Pessoas que o construíram, ao longo do caminho, aproveitando os "corredores de liberdade". Um espaço de afectos e ideais. Um ACREDITAR."

Retirado da história "Um Espaço Aberto... Fechado?", penada em 18 de Novembro de 2008.
http://pachadrom.blogspot.com/2008/11/um-espao-aberto-fechado.html


E assim aconteceu. Fecharam o espaço fisico. A Educação Informal e Não Formal a serem mais uma vez atropeladas por políticas educativas autistas e inflexíveis...

Mas nós não abandonamos a ideia. Enquanto houver crianças e jovens que chamem por nós, que nos digam "Estou aqui!"... Nós cá estaremos, surfando as mudanças, sentindo com força este pachadrom. Como sempre o fizemos.

O Espaço Aberto foi, é e sempre será um espaço aberto a todos e para todos. Um espaço de entendimentos, de entrelaçar de relações, entre miúdos e graúdos.Um Olé com Duende para todos!

E porque, dizem, uma imagem vale mil palavras... Deixo-vos com alguns momentos do caminho percorrido até aqui. E com um Até Já!

(Um agradecimento especial ao Duo Dinâmico e à Rapariga da Corda, pelo apoio técnico. Gracías!)