terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pedras contra Tanques: 180 dias depois


Em Maio escrevi neste Caderno sobre os acontecimentos da Bela Vista. Sobre a relação que nós, "trabalhadores do social", temos com a Comunicação Social. Da forma como o Quarto Poder "trabalha socialmente" a informação.

Agora, 180 dias depois, a Grande Reportagem da SIC volta ao tema. Estiveram no Bairro. Entrevistaram este mundo e o outro. A nossa expectativa era grande. O resultado pode ser visto abaixo.

Deixo-vos com o vídeo promocional e a Reportagem propriamente dita. Comparem! Comentem...

Para já, as opiniões que tenho ouvido divergem.

Uma Reportagem narrativa? A vida de 5 jovens referência do Bairro?

O papel da Religião na estruturação da vida das pessoas? Ou a total ausência do Estado no Bairro, enquanto regulador social?

Eu, pessoalmente, esperava mais. É importante que se passe de facto uma mensagem que rompa os estereótipos do gueto de marginais. Que as fronteiras culturais e sociais que impomos aos outros os condicionam. Que, como diziam os familiares dos jovens entrevistados, é preciso trabalhar e estar atento. Estar presente. Escutarmo-nos uns aos outros.

Ainda assim, soube-me a pouco... E vocês, que dizem?

Histórias afectivamente relacionadas:
http://pachadrom.blogspot.com/2009/05/pedras-contra-tanques.html
E todas as que se seguiram sobre a Bela Vista.







Em Maio deste ano o bairro da Belavista, em Setúbal, foi cenário dos piores confrontos urbanos de que há memória em Portugal.
Seis meses depois, a SIC foi conhecer por dentro o contexto.
Falámos com um dos responsáveis pelos incidentes que, durante várias noites, causaram alvoroço no bairro. E fomos descobrir o outro lado da Belavista.

6500 pessoas a viverem num ambiente degradado e a precisar de ajuda urgente.

Gente diferente. Famílias vizinhas produziram filhos opostos. Cruzámos amigos de infância: um deles licenciou-se e atingiu posição de liderança na faculdade, o outro escorregou na vida e mergulhou no pântano da marginalidade.

Belavista, 180 dias depois elege o exemplo de 5 resistentes que, apesar do bairro, conseguiram ultrapassar o limite.

Segunda-feira, 14 de Dezembro.

Jornalista: Pedro Coelho
Repórter de imagem: Mário Cabrita
Edição de imagem: Ricardo Tenreiro
Grafismo: Carla Gonçalves
Produção: Isabel Mendonça; João Nuno Assunção
Coordenação: Cândida Pinto
Direcção: Alcides Vieira


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Coração das Mulheres Ciganas


Choeur de femmes tsiganes” (coro de mulheres ciganas) é o título que Claire Auzias deu a uma colectânea de 24 testemunhos de mulheres ciganas europeias. Jogando com a palavra “choeur”, que é pronunciada com o mesmo som que palavra coração “coeur”, Claire apresenta-nos as histórias de vida de mulheres ciganas, reveladoras de uma vida intensa que nós não suspeitamos… Vidas de mulheres que encontraram alguns corredores de liberdade na labuta duplamente excludente: por serem mulheres e por serem ciganas, numa Europa que se diz democrática, solidária, acolhedora… A não perder…



"As mulheres que a sua palavra neste livro são singulares. Gitanas, Manouches, Yenish, Romnia, Sinti, viajantes, todas são mulheres ciganas. Elas têm também outras identidades: francesas, suíças, espanholas, romenas. Elas poderiam ser nossas colegas de escola primária, ao fundo da sala, ou na saída da aldeia ou vila, no fundo de um campo. Na periferia da minha cidade natal, elas vão e vêm durante toda uma vida, em torno de espaços de estacionamentos ou de terrenos baldios. O que elas nos dizem do seu quotidiano é inimaginável. Contudo não há revelação nem sensacionalismo, nem furo jornalístico nem grande espectáculo. Não. Humildade, sobriedade, receosas.
De repente, vozes se levantam do outro lado da Europa. Polifonias que nos dizem do seu orgulho, das suas lutas, dos seus desaires, das suas forças. Nas pregas da vida cigana, a emancipação das mulheres também chegou. Ela varre todos os dias práticas arcaicas. Ela ri. Ela joga com o falar familiar das mulheres de hoje. Quarenta anos depois do nascimento do Movimento de Libertação das Mulheres, compus este ramo com as minhas irmãs romnia que nos devolvem o gosto pela liberdade, pela combatividade e esta mistura inegável de gravidade e de ligeireza."

Em Claire Auzias, Choeur de femmes tziganes, Égregores Éditions 2009
http://egregores.editions.free.fr/claire-auzias-choeur-de-femmes-tsiganes.html



A Olga Mariano e eu, tivemos o prazer de conhecer esta mulher singular (à volta de um arroz de polvo em minha casa) de olhos claros e sorriso fácil, sempre atenta ao outro, curiosa q.b., revelando algum pudor nas perguntas que coloca por um profundo respeito pela pessoa que adivinha habitar por detrás de cada olhar, sussurro, suspiro, silêncio…Sendo crítica, luta por uma emancipação das mulheres vinda de dentro e não imposta por modas políticas… Um Jaleo para esta mulher europeia que conheceu por dentro outras mulheres e homens ciganos romenos noutro livro editado em Portugal, em 2000: Os Ciganos.


História penada pela Myrna

Histórias afectivamente relacionadas:
http://pachadrom.blogspot.com/2008/12/no-avesso-do-cenrio.html


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tarde Intercultural Cigana - Casamentos Mistos


No final de Maio deste ano, aconteceu (mais) um momento de cumplicidades entre payos e ciganos, entre homens e mulheres. Entre pessoas. Com a presença das Araquerar. Infelizmente não pude participar mas fica aqui o testemunho de quem lá esteve. E aguardo que as Araquerar façam o registo de (mais) uma aventura.




"Os casamentos mistos são um fenómeno social com uma importância e uma visibilidade crescente no mundo actual. Por este motivo, é imprescindível aumentar o conhecimento social que se tem sobre estas famílias, nomeadamente para entender quais são as formas, as dinâmicas e as estratégias de conjugalidade adoptadas por este tipo de casais para superar as suas diferenças culturais e assumir uma verdadeira união conjugal."

Sofia Gaspar, 2008. CIES-ISCTE



Casamentos mistos: um desafio ao amor? Ou o amor faz o milagre da aceitação incondicional?

Desafiaram-se três mulheres de coragem - duas jovens ciganas, balzaquianas, misteriosas, e uma payita, na idade da loba, com a ternura dos quarenta a transpirar-lhe pelos poros - de assumirem a sua diferença, de partilharem com “desconhecidos” o que pertence ao foro privado e que tanto nos intriga - mais os estudiosos (e curiosos) do que o comum dos mortais, porque estas coisas do amor, não escolhem idade, classe social, origem étnica, religião; porque estas coisas do amor são, efectivamente, misteriosas, mágicas, uma química, um duende…

O debate foi lançado com algumas questões-desafios:
O que lhes parece ter sido o toque de magia que as fez unir a uma pessoa "diferente" (terá sido assim tão diferente?), que o acaso (terá sido um acaso?) fez com que se unisse a ela, através de laços conjugais. Quais foram as etapas por que passaram? Quais foram os obstáculos que encontraram e como os ultrapassaram? Que mudanças profundas (se é que as houve) se operam nas suas vidas e nas suas formas de encarar a vida a dois?

Não vou expor aqui o que cada uma quis partilhar, desafiada pelas perguntas lançadas pelas pessoas presentes… A riqueza do debate e da partilha foi imensa e eu não estava lá com o intuito de anotar tudo, como faz um antropólogo… Estava lá para incitar as perguntas, dinamizar o debate, lançar pistas de aprofundamento, aflorar contradições, tentando desmontar estereótipos, dando voz a estas três mulheres muito especiais: Sónia Matos (já conhecida dos aficionados deste blogue), Noel Gouveia (prima da Sónia, filha da Olga Mariano) e Lígia Vitorino (uma antropóloga que veio a descobriu ter casado com um parente da Sónia e da Noel).

Falou-se de obstáculos que se tiveram de encarar de frente, encontrando estratégias para os contornar sem se dilacerar identidades; de dilemas que se tiveram que equacionar; de decisões que se tiveram que tomar, de cumplicidades que se criaram; de novos estares e sentires que se descobriram, e de redes sociais que se construíram… Quando se toma este passo, a vida a dois nunca é apenas uma vida a dois: ela traz consigo duas famílias – com os seus rituais, hábitos, crenças, etc... - que se unem por partilharem um bem comum: a felicidade dos seus filhos e filhas – e aprendem a conhecer a pessoa que habita no(a) Cigano(a) e na(o) Payita(o).

Concluiu-se que os casamentos mistos lidam com os mesmos obstáculos que os outros casamentos também enfrentam e que só o amor, a compreensão, o respeito pelo outro os pode transformar em desafios e oportunidades…! Na intimidade, no privado, na gestão das relações familiares somos muito mais semelhantes do que diferentes… E quando estes laços duram (como é o caso do casamento da Lígia cuja ligação dura há mais de 20 anos) é porque o casal aprendeu a andar com os sapatos do outro e fez caminho com eles calçados!

História penada pela Myrna

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

10 Minutos com... A AMUCIP e as Araquerar


No dia 1 de Julho de 2008 passava na RTP1, em horário nobre, o programa 30 Minutos. Numa das peças, contavam-se histórias sobre Mulheres. E foi nesse dia que ganhei um novo nome artístico, consequência de um equívoco entre professora e jornalista: nascia a Vanda Neves! E mais não escrevo para não estragar a surpresa...



Gracías aos magos da informática- o Duo Johnny & João. Um Olé com Duende para eles!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

As Mulheres Ciganas: Um Desafio à Emancipação do Povo Cigano


As comunidades ciganas vêem-se confrontadas, hoje, com uma lógica de organização social baseada na emancipação da mulher e nas relações democráticas, distinta da sua, profundamente tradicional e conservadora. De facto, a subordinação da mulher ao homem, em que “em pequena, a menina obedece ao seu pai; em mocita obedece ao pai e aos irmãos; em casada obedece ao marido; em velha, obedece aos filhos”; e a subordinação em relação à idade, em que “os filhos obedecem aos pais (mesmo em adultos), os jovens obedecem aos adultos e a todos os ‘homens de respeito’, que são sempre homens de idade, (havendo uma hierarquia análoga entre as mulheres, se bem que a sua lealdade seja sempre em relação ao mundo dos homens)” contrastam em muito com os ideais dos países do mundo ocidental e/ou ditos democráticos.

Diante deste panorama e no interior deste estreito espaço de manobra, as mulheres ciganas têm vindo a ser chamadas a assumir um papel fundamental no processo de emancipação do povo cigano. Elas,sabendo que não devem estar um passo à frente do homem na caminhada para o desenvolvimento, lutam por um espaço ao seu lado, ainda que ligeiramente desviado para trás. Desde criança, são-lhe incutidos, pelas suas próprias mães, tias, avós e irmãs: o saber escutar, calada; o saber servir, submissa; o saber cuidar, dedicada; o aprender, observando. Nelas, o sentido do dever (para com a família e os seus) chega, com frequência, ao ponto de se esquecerem de si próprias enquanto pessoas. De facto, a vida das mulheres ciganas é ditada pelos papéis sociais que a comunidade lhe tem vindo a atribuir. Todavia, à medida que as comunidades ciganas se têm vindo a deixar permeabilizar – através do convívio com os demais cidadãos portugueses - pelas aceleradas mudanças de hábitos de vida e de consumo desenfreado que a publicidade tem veiculado profusamente - através da televisão e dos centros comerciais - pouco a pouco, têm-se vindo a introduzir mudanças nas relações sociais e, obviamente, nos usos e costumes tradicionais.

Para as mulheres, tanto ciganas como não ciganas, serem emancipadas é sinónimo de independência económica... Recentemente, no caso das mulheres ciganas, as situações que a implementação do RMG/RSI (desde 1996) tem vindo a promover trouxeram alguns hábitos novos. Assim, vejamos: como elas, geralmente, não são casadas pelo registo – no BI é solteira - quando se candidatam à prestação do RMG/RSI sendo, para efeitos legais, mãe solteira, elas podem receber uma remuneração para o sustento da família (independência económica). Em troca e para contribuir com a sua quota parte neste novo “negócio” (é, como tal, encarado pelas comunidades ciganas), elas devem mandar os seus filhos para a escola, nomeadamente as raparigas, obrigando-as a assumir riscos sobre a falta de vigilância que a menina deve ter (para se manter “pura e honrada” até ao casamento). Perante as suas famílias, elas assumem riscos para ver os seus filhos evoluírem; elas assumem riscos garantindo o sustento mínimo da sua família - pois é às mulheres ciganas que compete providenciar alimento diário para todos - sem ter que depender, sistematicamente, do dinheiro que os “seus” homens angariam para a família.

Neste sentido, os cursos profissionalizantes a que têm vindo a ser chamadas a frequentar, podem trazer alguns efeitos positivos. Por um lado, é no seio deles que elas vão aprendendo a conviver com outras mulheres, nomeadamente não ciganas, muitas vezes em situações semelhantes, em espaços que promovem um olhar mais atento em relação a si própria, sobre o seu papel como indivíduo para além de filha, nora, mãe, sogra ou viúva. Progressivamente, elas têm vindo a utilizar este espaço/tempo para si próprias, enquanto mulheres, e descobrirem-se enquanto pessoas e também enquanto indivíduas. Paulatinamente, as regras, os usos, os costumes são postos em causa porque confrontados com os de outras mulheres de diferentes culturas ainda que de semelhantes condições socioeconómicas.

As mulheres ciganas têm vindo a saber implementar uma revolução tranquila no seio da família cigana e do povo cigano. Elas sabem, como ninguém, o que significa “o poder atrás do trono”. Elas têm vindo a aprender com alguns dos atropelos cometidos à condição do Homem e da Mulher, em nome da liberdade, pelas sociedades ocidentais e/ou ditas democráticas. Elas sabem que não se conseguirão emancipar enquanto os seus filhos, varões, o não conseguirem também. Por isso, elas lutam, com todas as suas forças, ainda que discreta e vagarosamente, para que as novas gerações possam vir a fruir dos instrumentos básicos de emancipação – ler, escrever, contar, utilizar os computadores, dominar a burocracia, etc. - isto é, possuir a instrução básica necessária para poderem vingar e reivindicar os seus direitos na sociedade dominante enquanto europeus, portugueses E ciganos. Sabem, também, que, se evoluírem mais depressa que os “seus” homens, não terão o apoio dos seus. E sabem que se não tiverem o apoio dos seus, da sociedade maioritária também o não obterão. Porque sabem que todos – abusivamente - desconfiam – quase que visceralmente - das pessoas ciganas façam elas o que fizerem, mesmo que seja professor, mecânico, pedreiro, porteiro, segurança, balconista, motorista, ajudante de cozinha, ajudante de jardim-de-infância, cabeleireira, etc. A prova disso são alguns dos efeitos negativos dos inúmeros cursos de profissionalização que têm vindo a ser implementados e que, depois de se “brincar” com as expectativas das pessoas no que diz respeito à da mobilidade social e à autonomia financeira, são lançadas no desemprego e no assistencialismo, tendo saboreado um pouco outros modos de vida e, entretanto e talvez, terem “desaprendido” a serem ciganas! É como dar um rebuçado a uma criança que, depois de colocado na boca, lho retiram! Os efeitos deste tipo de actuação são, sem dúvida, bastante nefastos e funcionam como antídoto contra as propostas de mudança (sendo que há quem lhe chame “integração”) que lhe são propostas (ou melhor, impostas)!

História penada por:
Mirna Montenegro (ICE-Instituto das Comunidades Educativas / Projecto Nómada)


Este texto foi anteriormente publicado no boletim do projecto “Príncipes do Nada” do PROACT/ISCTE e no “Noticias da Amadora”


Bibliografia:

Carlos, Maria da Liberdade Sousa (2000) Estádios de uma vida ditada: filha, mulher e mãe. A construção do feminino para os gitani, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa

Montenegro, Mirna; Org. (1999) Ciganos e Educação, Setúbal: ICE

Montenegro, Mirna (2003) Aprendendo com Ciganos: Processos de Ecoformação, Lisboa: Edições Educa

VV. AA. (1999) Mujeres Gitanas ante el Futuro, Madrid, Editorial Presencia Gitana

VV. AA. (2000) Mujeres Gitanas, Gitanos, Pensamiento y cultura nº5, Revista de la Asociación Secretariado General Gitano. Madrid

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Olga Natália Maia Mariano


“Nós temos cinco dedos na mão. São todos diferentes. São todos necessários.”
Olga Mariano – Assembleia da República, na apresentação pública do Relatório das audições sobre ciganos portugueses, no dia 17 de Março de 2009



Não me lembro de quando a conheci. Terá sido num dos muitos momentos Nómada. Mas recordo-me das suas palavras ditas e não preciso de me socorrer dos papelinhos dispersos onde vou anotando a poesia que lhe sai das suas mais simples afirmações.

A primeira frase que lhe recordo, e que nunca esqueci, será: - Misturem-se! Vão ver que não dói. Filosofia de vida que me acompanha desde então. E não dói, acreditem!

Dizer-lhe a idade seria uma indelicadeza da minha parte. O que já viveu e sentiu dariam para mais de um século… A primeira mulher cigana a ter carta de condução em Portugal. Presidente da única associação de mulheres ciganas do país – a AMUCIP. Uma Mulher bonita, por fora e por dentro.

Era muito nova quando perdeu o marido e ficou sozinha, na sua condição de mulher viúva e cigana, a cuidar dos filhos. O traje negro das viúvas ciganas vestido com o orgulho de quem não abdicará das suas tradições e convicções para construir o sonho de um mundo multicultural, alicerçado na aceitação do Outro diferente e na criação de alternativas de pensar, agir e sentir.

As batalhas que já travou na vida só ela as saberá contar. Hoje, homens e mulheres, ciganos e não ciganos, ficam em silêncio para a ouvir, num respeito que guardamos apenas para aqueles que sabem fazer magia com a vida e deslumbrar-nos com ensinamentos. Coelhos na cartola. Tesouros do fundo do mar.



Escreve, quem a conhece bem:

"Eu conheci a Olga através dos seus poemas que foram sendo publicados no Andarilho – boletim do Nómada. Depois, porque ambas escrevíamos poesia, juntámo-nos num projecto Cultural em Setúbal, dirigido por outra grande mulher – Maria José – e, através deste projecto ofereci à Olga, pelo seu 50º aniversário, o seu primeiro livro de poemas:“Poemas desta vida Cigana”, editado em 2000.
Depois e, durante mais 3 anos, fui-lhe oferecendo, sempre pelo seu aniversário, os seus poemas compilados em livros, dos quais já se publicaram: “Festejando a Vida” em 2002; “Inquietudes” 2003; “Tesouro da Vida” 2004. Tentámos que fossem todos publicados numa compilação, para servir de motivação as outras mulheres ciganas que frequentam os cursos de alfabetização… Mas em vão… Só promessas que o vento leva…"

Myrna


Aqui ficam alguns destes poemas que, como diz a Myrna, deixam transparecer muito da persistência desta mulher muito especial.





Foi no meio da vida
que encontrei uma passagem.
Era muito estreita e pouco viável.
Tentei penetrar e não consegui
Recuei atrás quase desisti.
Um pouco à frente
encontrei uma luz
dirigi-me a ela como a uma cruz

havia esperança de continuar.
É pensando nela que não vou chorar.
Já me sinto tonta
de tanto pensar nessa passagem

não terei lugar

De desilusão em desilusão
vou ultrapassando
cada portão
este é meu destino
e não vou deixar
que outros ocupem
este meu lugar
Se tanto lutei para o conseguir
não será agora que vou desistir
foi no meio da vida que encontrei a passagem
é pensando nela que vou de viagem

Olga Mariano

Ser Cigano
Ser cigano é ser diferente
É como a água a correr
Cristalina e luzidia
Qual riacho a percorrer.
As margens, que mãos tão frias!
O leito, acolhedor
O afluente é a alegria
O desaguar é o prazer.
Será que é compreendido?
O seu andar bamboleante
Quais ondas em maré fria
Qual noite escura e sombria
Que não vês a luz do dia
Até ao amanhecer.
Ser cigano é ser diferente
Ser cigano é ser artista
Pois tudo o que faz, não faz
E tudo o que quer, não quer.
Como será o futuro?
Que futuro nós teremos?
Com tanto para lutar
Sem nunca nos apercebermos
Que difícil e triste realidade
Um dia se esquecerá.
E as batalhas que perdemos!
Mas perder uma batalha
Não é perdermos a guerra
E como trabalhadores e diferentes que somos
Nós juntamos nossas mãos
E com força e harmonia
Carinho e simpatia
Um dia, não muito longe
O sol nos alumia
E como tudo tem um nome
O nosso é alegria.

Natália Maia


Voltámos...!
Como é bom voltar no tempo.
Que andanças!
Que mudanças,
Numa lacuna sem vida.
O reencontro
Da amizade, do carinho, da saudade
Quais belos três mosqueteiros
Quais damas abandonadas
Num tempo que não contou
Que nem me lembro de nada
Duma volta tão esperada
Sonhos na caixa fechada.
Au revoir, à bientôt.

Olga Mariano


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tomar a Palavra


A AMUCIP promoveu em 2006 o lançamento do livro Tomar a palavra – olhares e falas de mulheres ciganas portuguesas sobre a família e o trabalho, com o apoio da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. Neste livro relatam-se experiências de vida de mulheres ciganas na conciliação da vertente laboral e familiar. As entrevistadoras são mulheres ciganas que recolheram depoimentos de mulheres casadas, viúvas e solteiras da sua comunidade. O objectivo foi dar a conhecer o que pensam as mulheres ciganas sobre famílias e tradições, movimentos e territórios, trabalho e escola, deixando ainda mensagens a ciganos e não ciganos, revelando pessoas marcantes nas suas vidas, discriminações sentidas pelos não ciganos e desigualdades que enfrentam todos os dias no seio da sua própria comunidade.


Aqui fica um cheirinho dos tesouros que moram dentro deste livro, através da transcrição da sua introdução.


“As circunstâncias históricas tiveram um papel decisivo na vida dos ciganos, com uma constante perseguição. E se esta não foi a causa única, muito contribuiu para que os ciganos se entregassem dia após dia, ano após ano, a uma luta pela sobrevivência, levada a cabo com o mínimo de interferência na vida da sociedade maioritária.”

O cigano vive num mundo “só dele”…

O mundo dos “Senhores” não lhe interessa, pois vive em função da sua comunidade…

Não se discute política na comunidade cigana, pois os ciganos não se regem por “Leis dos Senhores”, mas sim pelas suas.

A única coisa que se discute do “Mundo dos Senhores” é o futebol.O homem, porque a mulher não.

Dando seguimento a um “sonho” iniciado há seis anos atrás pelas sócias fundadoras da AMUCIP, através deste livro de “histórias de vida”, demos oportunidade às mulheres ciganas de “tomarem a palavra”, ouvindo, sentindo, entendendo mentalidades que fazem parte da nossa realidade, mas com formas diferentes de dizer e de sentir.

Ao dar oportunidade a estas mulheres de falarem dos seus sentimentos com outras mulheres da sua comunidade, não só lhes é transferido o poder – pelo envolvimento na discussão, na reflexão e na apropriação das problemáticas – como se dá a compreender à sociedade maioritária como decorre a vida quotidiana da mulher cigana, no seu grande empenhamento quer na vida familiar quer profissional, que começa muito cedo na sua vida, ainda em casa dos pais.

Dêmos-lhe então a palavra…


Sobre a AMUCIP e o seu trabalho:


http://www.principioactivo.com/equal_news/fevereiro08_foco/emfoco4.htm

http://www.ciga-nos.pt/Default.aspx?tabindex=8&tabid=15

http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=891748



(aceitam-se contribuições para fazer crescer a lista de links sobre a AMUCIP)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

P'lo Sonho é Que Vamos: a AMUCIP


“Nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos.”

Mia Couto – Estórias Abensonhadas

Neste meu pachadrom com as pessoas ciganas, nada me tem colocado tantas questões e suscitado tanta reflexão sobre o meu “modo de estar” profissional e pessoal como o estatuto da mulher cigana na sua comunidade. Poderia desenrolar aqui algumas histórias que, de acordo com a minha pertença à sociedade dita maioritária, me fariam saltar para o lado de cá da barricada e construir os muros que fecham os caminhos ao entendimento e à aceitação do Outro. Isso seria o mais fácil. Mas estamos a falar de um povo no “avesso do cenário”, como disse Claire Auzias (http://pachadrom.blogspot.com/2008/12/no-avesso-do-cenrio.html), e por isso vou contar esta história ao contrário.



Em 1999, conheci cinco mulheres ciganas que frequentavam um curso de formação de mediadoras sócio-culturais. Eu estava ali de passagem mas desse breve encontro recordo-lhes os sorrisos envergonhados, o olhar vivo e curioso, a resposta frontal. Brincavam com os estereótipos da sua própria condição, falando “à cigana”, e com isso diziam-me que sabem como nós - os não ciganos, os pensamos a eles -os ciganos.


Voltaria a encontrar-me com elas, aqui e ali, através do Nómada (http://pachadrom.blogspot.com/2008/10/amanh-no-ser-vspera-desse-dia.html). Pela Myrna (http://myrna.com.sapo.pt/), fui acompanhando as suas aventuras e desventuras na constituição daquela que é a única associação de mulheres ciganas do país: a AMUCIP - Associação para o Desenvolvimento de Mulheres Ciganas Portuguesas (http://www.madrugada-cigana.com/amucip.htm).

A ideia foi-lhes sugerida por um formador no Curso de Mediação Sócio-Cultural, que frequentaram de acordo com o Plano de Inserção do Rendimento Mínimo, e foi avante pela mão amiga do Cónego Filipe Figueiredo e da Pastoral dos Ciganos. A vontade, a determinação e a teimosia para baterem com os pés no tablao, e que lhes permitiu materializar o sonho, essas vieram de dentro de cada uma delas.

Cinco mulheres a conquistar o espaço para a construção da sua cidadania. Cinco duendes unidos no sonho de mudar a sua vida e a de outras mulheres, respeitando a sua cultura e tradições. Haverá coisa mais difícil? Fundaram a AMUCIP e aprenderam a linguagem hermética do associativismo formal. Vinham de uma cultura ágrafa, onde a palavra dita é o que basta para assinar a honra, e aprenderam a preencher formulários, elaborar estatutos, redigir actas, apresentar declarações de finanças e certidões de conservatórias, num labirinto burocrático que quase as fez desistir.

Mas o sonho falou mais alto e nasceu a Associação. Durante cinco anos idealizaram o Espaço, lugar de encontros, afectos e cumplicidades para concretizar projectos. A AMUCIP a morar-lhes no coração e nas bagageiras dos carros, os papéis órfãos de sede associativa. O regresso a uma vida nómada, condição ancestral que nunca desejaram.

No dia 8 de Março de 2005 (e poderia ser outro o dia?), depois de baterem a muitas portas, a Câmara Municipal do Seixal concretiza-lhes o sonho e cede-lhes um espaço na Cucena. Estive lá em dois momentos diferentes. O acolhimento caloroso. A casa pequenina, a respirar actividades em movimento. O alpendre a convidar à conversa, no sol de fim de tarde. O jardim a prometer hortas pedagógicas. As mulheres ciganas do bairro em formação, à procura de uma vida melhor para si e para os seus. Os chaborilhos numa azáfama, entre os computadores, as pinturas e as aulas de dança. O leitor de cds no parapeito da janela e as meninas a bailar a sua música. Para quem quisesse ver…

O bulício de quem vive sonhos acordados. E o despertar nos primeiros pesadelos… Construíram a AMUCIP e a sociedade maioritária quis fazer delas interlocutoras, para acabar com os problemas sociais que não consegue resolver. Construíram a AMUCIP e a comunidade cigana olhou-as com desconfiança, pois pensou que elas quereriam falar por toda a comunidade, papel tradicionalmente atribuído aos homens. Sentiram-se em terra de ninguém… Ao esforço de dinamizar uma associação, somaram-lhe o esforço de construir a identidade associativa e de desconstruir medos de um lado e de outro, aproximando fronteiras, culturais e de género.

Recordo um dos momentos em que estive no Espaço, na Quinta da Cucena, sede da AMUCIP. O pedido de desculpas porque não nos podiam dar toda a sua atenção. Estavam no primeiro dia de uma formação para mulheres ciganas, sobre Empreendedorismo. Não podiam dar-nos todas as explicações sobre o que fazermos nós – as não ciganas- com as mulheres ciganas. Sem tempo para perceberem que nós – as payas- aprendíamos tudo ali, a observá-las. E aprendíamos que o nosso caminho é longo e demorado. E tem de ser de paciência, se quisermos construir a nossa teia de laços sociais e redes de solidariedade. Como a que tem o tecelão quando tece a sua manta…

Cinco mulheres ciganas. A mudar o mundo. O delas. O nosso. O dos outros. Nasceram com os olhos a espreitar para dentro e o duende a espreitar para fora. São ciganas e constroem caminhos de entendimento entre payos e ciganos, pontes de comunicação entre culturas. “P’lo sonho é que vamos” é o nome que deram a um Projecto Equal, financiado pela União Europeia, e com o qual se desmultiplicaram em acções para melhorar a coesão social e a solidariedade entre sentires e pensares diferentes.

“P’lo sonho é que vamos” podia ser o nome da Associação. Podia ser o princípio norteador do nosso trabalho com as comunidades ciganas. Porque não?


Esta história está escrita na minha cabeça há muito tempo, tanto quanto o tempo do desafio para fazer este Caderno de Histórias. Teimou em não vir à luz do dia pela responsabilidade que significaria escrevê-lo (que é o mesmo que dizer que sou medrosa). Ficará sempre muito distante daquele que é o trabalho real destas mulheres e de outras que as acompanham na sua resistência à formatação social. As minhas desculpas pelo(s) facto(s).

(Esta história é para a Alzinda Carmelo, Anabela Carvalho, Noel Gouveia, Sónia Matos e, muito particularmente, para a Olga Mariano. As outras quatro GRANDES Mulheres que me desculpem, mas pelo que conhecemos da Olga, penso que deixarão passar esta minha fraqueza. Um Olé com Duende para estas cinco Mulheres e para a AMUCIP ! ARZA! E que continuem a olhar para dentro, agindo para fora…)

Ainda que tenha sido medrosa e nunca tenha escrito sobre a AMUCIP, são muitas as histórias sobre mulheres que afectivamente se cruzam com esta. Serão todas as que apresentam a Palavra Mágica Araquerar e também "Desenhos no Ar" (http://pachadrom.blogspot.com/2009/04/desenhos-no-ar.html).


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fadenco III

Na senda do Fadenco, vou descobrindo coisas com duende. Abaixo, o link para um video que mostra um bocadinho de um fado bailado com alma ibérica. Não consegui descobrir um vídeo completo, nem que pudesse postar directamente. Mas é só clicar... Y Olé!


http://www.youtube.com/watch?v=aJlNP8eKqRE

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Fadenco II

Em 2008, Dulce Pontes e Estrella Morente (http://www.estrellamorente.es/) juntaram-se num Projecto a que chamaram "Dulce Estrella", num género musical que batizaram de Fadenco. Os exemplos no Youtube são muitos, é só ir espreitar. Deixo-vos com um desses momentos de troca entre culturas e uma história que mais uma vez fui copiar a www.esflamenco.com.








Dulce Pontes y Estrella Morente en el Conde Duque (Madrid)
Dulce Pontes y Estrella Morente en el Conde Duque (Madrid)

Andrés de Gabriel
La cantaora granadina Estrella Morente y la cantante portuguesa Dulce Pontes andan embarcadas en una gira conjunta que bajo el nombre de "Dulce Estrella" fusiona el fado y el flamenco. Ayer el espectáculo recaló en Madrid (España) donde un abarrotado auditorio disfrutó de la complicidad de dos de las voces femeninas más importantes de la Península Ibérica.

Las tablas del Conde Duque han asistido al nacimiento de un nuevo híbrido: el fadenco. Surgido de la unión de dos voces jóvenes y renovadoras, la flamenca de Estrella Morente y la fadista de Dulce Pontes, este mestizaje ibérico pretende refrescar y estrechar lazos entre lo mejor de la tradición musical española (el flamenco) y portuguesa (el fado).

Acompañadas por una docena de músicos vestidos de blanco inmaculado Estrella y Dulce salen al escenario cada una por un lado para reunirse en el centro. Allí, ya juntas y sentadas sobre una tarima, entonan las estrofas en portugués y español de una nana al tiempo que hacen sonar el agua de un barreño.

Un inicio con cierto aire místico que busca simbolizar el vínculo de España y Portugal a través del líquido elemento, el mar, los ríos, etc.

Hora de los pregones y las primeras danzas. Estrella con su braceo flamenco y Dulce con sus movimientos étnicos de raíz africana. Un esbozo de baile que se irá repitiendo a lo largo de todo el espectáculo, en cada uno de los interludios musicales.

A continuación, y dentro de la pretensión de acercar orillas y difuminar fronteras, el canto tradicional portugués "Milho verde" se acaba convirtiendo por arte de birlibirloque en la española "Los cuatro muleros". Toda una demostración de que la música popular de los dos países que conforman la Península Ibérica tiene más de un punto en común.

Jondura y melancolía


Estrella Morente en un momento de
Estrella Morente en un momento de "Dulce Estrella"

Andrés de Gabriel


Con "Chiquilín de Bachín" Estrella demuestra que a pesar de su juventud ya es toda una diva de la canción, una señora del escenario. Por su parte, Dulce se encuentra más cómoda en el papel de simpática niña traviesa.

Dos personalidades escénicas muy diferentes, dos voces claras y limpias y una coprometida reivindicación en forma de recitado: "¡Oiga señor presidente, no dispare, los niños son inocentes!". Quien se de por aludido, allá él.

Cambio de vestuario y momento para los lucimientos personales.

En su parte flamenca la Morente canta por alegrías, soleá, malagueñas y tangos. Compás, jondura y duende con la mirada puesta en La Niña de los Peines.

Por su parte, la Pontes se sumerge en los aires marineros y melancólicos del fado para recordar a Amalia Rodrigues.

Tras los correspondientes sets individuales las dos artistas vuelven a juntarse en escena para cruzar el charco y hacer un guiño al tango argentino. "María de Buenos Aires" deja paso a un aplaudido "Volver". El hit de Estrella Morente es seguido por el tema más conocido de Dulce Pontes, "Canción del mar".

Traca final rubricada por "Zambra", "ay, como me gusta esta canción" exclama Dulce, y un "Gracias a la vida" coreado por un público entregado.

Agradecido broche para dos horas de viaje entre España y Portugal, con escala en Latinoamérica. Un nuevo mestizaje con doble voz de mujer que continúa ahora su gira y que en un futuro no muy lejano, y a juzgar por el éxito de masas, es más que probable que acabe convirtiéndose en producto discográfico.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fadenco I


E cá está, a resposta!

A origem do Fado perde-se no tempo, tal como a do flamenco, mas posso afirmar-te que existe uma raiz indo-europeia que é transversal a ambos os estilos.
Ambos identificam sentimentos de nostalgia, tristeza, abandono mas tambem alegria e festa. No fundo, cristalizam em si os momentos chave das vidas dos individuos que, ao longo dos tempos, continuam a fazer sentido no contexto social de um povo. Nessa dimensão, partilham semelhanças com muitas produções culturais (musicais) em todo o mundo, como o tango, samba, klezmer, Sufi, e muitos outros.

No entanto, na minha opinião, o flamenco revela-se, em termos de análise musical, mais rico do que o fado, uma vez que a dimensão ritmica, harmonica e melódica é mais elaborada e diversa. Quanto ao valor expressivo, a análise é sempre subjectiva, estando sujeita ao gosto pessoal e à capacidade dos interpretes/compositores. Em pormenor, na análise do canto, existem afinidades que foram sendo introduzidas pelo contacto proximo entre as duas culturas. A Amália, por exemplo, era conhecida pela forma como "enrolava" as melodias, "como se fazia nas beiras" dizia. Era uma influencia indirecta do flamenco. Os exemplos inversos tambem se conseguem encontrar, não duvido, se bem que não tenho conhecimento para aqui o demonstrar. Talvez alguem mais habilitado possa elaborar sobre este assunto...


Da minha parte tenho paixões fortíssimas em ambos os universos. Para mim, tenho que sentir na arte um reconhecimento de algo que é maior do que nós e nos une a todos os outros seres, vivos ou não, que compõem o espaço/tempo como o experiênciamos. E isso, ou está lá, ou não.

Abraço, com duende e alma fadista!


História penada por Pedro Antunes. Gracías!

Guitarra Portuguesa


Num blog que pretende partilhar ideias e sentires sobre comunidades ciganas e flamenco, esta história será uma excepção. Ou não... Digam-me vocês!

No Sábado tive o prazer (mais uma vez) de assistir ao Projecto Conhecendo Paredes/Afinidades do meu amigo/ex-colega/compadre/padrinho/jaleador esporádico mas incontornável deste Caderno - Pedro Antunes- e do seu amigo João Fernandez.

E à medida que a música das guitarras preenchia o espaço, assombrava-me uma vez mais com a "afinidade" entre aqueles sons e os sons mais jondos do Flamenco. E voltou-me a vontade de descobrir as fronteiras entre o Fado e o Flamenco. Existem? Existe uma alma Ibérica? A Dulce Pontes e a Estrella Morente consideram que sim, a avaliar pelo Projecto Fadenco Dulce Estrellla que desenvolveram em 2008.

Eu vou continuar a desafiar (leia-se, moer) o Pedro para que escreva sobre o assunto, aqui para o La Payita. Ou sobre outra coisa qualquer. Porque este payito é assim... Pode escrever sobre a música ou sobre o seu caminho cigano (com breves mas inesquecíveis incursões pelo baile flamenco... eheheh). O repto está lançado! Mais uma vez...

Por agora, e enquanto ele remói o assunto, que já deve estar a ver tudo negro... ayayayyy, deixo-vos o link para irem espreitar o Projecto. É só clicar em http://www.guitarraportuguesa.net/, ouvir as músicas que estão disponíveis em Download ou ver o vídeo que está na Galeria.

Pedro Antunes! Ficamos à espera. Da tua história cigana. Da partilha dos saberes sobre as guitarras (e não violas, isso já aprendi!!!). De te ver e ouvir num vídeo um "bocadito melhori". Um Olé com Duende para ti! Evidentemente! :)


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ojos de Brujo - Aocaná



Numa altura em que o duende parece ter ido de férias (um eufemismo pobre, diga-se!, para a preguiça), fui copiar uma história a um site que acompanho - www.esflamenco.com.


E cá estão eles de volta, os Ojos de Brujo, com um novo álbum que se chama Aocaná, editado em Março deste ano. Mais um álbum e mais uma palavra caló para o léxico. Aocaná significa Agora.

Ainda não o ouvi com atenção mas deixo-vos aqui um cheirinho... Um olé suave... Arza! E mais abaixo a entrevista.








Entrevista con Ojos de Brujo (Dj Panko)
"Sin hacer flamenco propiamente dicho hacemos de embajadores del flamenco por el mundo"

Juanjo Castillo
25/03/2009 (dd/mm/yyyy)

Dj Panko
Dj Panko

Hace ya 10 años de su primer disco "Vengué" y desde entonces Ojos de Brujo (ODB) no han parado de fusionar el flamenco con otras músicas hermanas. Una fórmula basada en la libertad artística y en el compromiso social que ha ido calando poco a poco dentro y fuera de España. El Grammy Latino por su anterior trabajo "Techarí" y sus constantes giras mundiales les convierten, a día de hoy, en el grupo musical español más internacional del momento. Ahora, tras una pequeña pausa para coger fuerzas, refrescar ideas y concebir nuevas vidas, Ojos de Brujo han dado a luz un nuevo disco, "Aocaná". Panko, el Dj y el encargado de relaciones públicas y asuntos exteriores de la banda, nos habla del álbum que acaban de editar y de su esencia flamenca.

¿Qué significa el título de "Aocaná"?

"Aocaná" en caló significa ahora. Es el reflejo de lo que estamos haciendo en este momento, nuestro aquí y ahora. El disco se iba a llamar en un principio "Aocaná garlochí" que en caló es "Ahora corazón", pero al final se ha quedado en "Aocaná" y lo que hemos hecho ha sido dibujar un corazón muy grande en la portada.

Es el disco más bonito que hemos hecho. Es el primero en el que Marina canta una canción de amor, aunque sea a su hijo. Es un poco como decir ahora toca sacar las cositas de corazón. Hay muchas canciones bonitas, aunque no falta su lado oscuro, Marina no de decir críticas sociales y de hacer referencia a como esta la situación ahora en nuestra madre Tierra.


Primero Vengué (duende), después Barí (joya), luego "Techarí" (libre) y ahora "Aocaná" (ahora), ¿por qué todos vuestros títulos son en caló, la lengua de los gitanos?

Han salido más nombres, pero no sé por qué siempre acaba en caló. Igual porque Ramoncico (Ramón Giménez), el gitano del grupo, los propone y gustan, aunque la verdad es que lo decidimos entre todos. El caso es que no te puedo decir por qué pero siempre acaban en caló. Es una lengua que se está perdiendo, que se pasa de boca a boca, de la que no hay casi nada escrito. Entonces, rescatar esa lengua y utilizar esos nombres, diciendo cosas muy concretas dentro de la música que hacemos, nos parece buena idea.

¿Qué hay de nuevo en este "Aocaná"?

Hemos vuelto a hacer canciones. Hemos parado, porque llevábamos casi 7 años de gira sacando discos entre concierto y concierto, grabando las maquetas en hoteles y furgonetas porque no había tiempo, estábamos "on the road" todo el día. Ahora finalmente ha habido tiempo para parar, relajarse y aprovechar todo el embarazo de Marina para quedar e ir creando poco a poco los temas.

Hay mucho flamenquito, rumba, bulería, soleá, seguiriya… tocado a nuestro rollo.


Ha habido más tiempo y por eso yo creo que hay más riqueza. Hay mucho flamenquito, rumba, bulería, soleá, seguiriya… tocado a nuestro rollo. Y lo que más destaca es una inevitable influencia latina, ya que el hijo de Marina es mezcla con un súper-músico cubano que es Carlitos Sarduy, nuestro trompetista.

Eso ha hecho que sin dejar de ser nosotros mismos, Ojos de Brujo, haya a lo largo de todo el disco una hondada de colores, frutas tropicales y sones latinos que pegan muy bien con nuestra música. Ha sido algo natural.

Nosotros que estamos muy abiertos a fusionar con músicas que convergen bien con el flamenco, creemos que la música latina siempre ha estado ahí como carne y uña. De hecho, los cantes de ida y vuelta son una especie de hermanaje muy lejano.

Tras más de 10 años y cuatros discos, pasáis de la autogestión y la independencia total a trabajar con una multinacional (Warner) ¿Por qué?

Ojos de Brujo
Ojos de Brujo



Nosotros seguimos teniendo nuestro sello y la negociación con la multinacional es de cara a la distribución. Desde Barí hemos tenidos diversos distribuidores, unos para Europa, otros para EEUU, otros para Japón… Y ha sido un poco complicado. Ha llegado un momento en que mantener toda esta autogestión nos convertía en empresarios, en "yuppies" con dos móviles y dejábamos de ir al local a hacer música.

Así que hemos tenido que sacrificar parte de esa autogestión, el manejarlo nosotros todos, por crear. Si no al final nos íbamos a quedar sin hacer disco y sin tocar. Lo que hemos dado es el paquete de la distribución, ya hecho y trabajado de muchos años, a Warner sin que toquen un ápice de lo artístico, ni entrar en esas negociaciones en las que te dicen como vestirte y cual va a ser el single.

Nos quieren, nos respetan y sólo se van a encargar de la distribución. Era la única manera de asumir y abarcar todo lo que nos ha venido. Nuestro tema es ya a nivel mundial y no llegamos. Matrimonio de conveniencia, pero con amor. Les damos el pastel hecho y sólo tienen que ponerle la guinda para distribuirlo. Tutti contenti. De momento es un año, y después ya se verá.


¿Cuál es ese estilo personal que identifica la música de Ojos de Brujo?

Nuestra raíz es flamenca.


Partiendo del flamenco hacemos una fusión con músicas que convergen. La raíz nuestra es flamenca. Todos los temas tienen un palo flamenco, dividido o subdividido, cortado o con especias de todo tipo, pero el plato es flamenco.

En "Aocaná" hay bulería electrónica, hay tangos, hay rumbas, hay una entrada por seguiriya, hay hip-hop y luego nuestros híbridos de bulería-rumba-tango, y hasta un ritmo a 5 muy curioso que ha inventado el Xavi y que no es ni la clave cubana ni el 4 nuestro de la rumba.


En Ojos de Brujo tiene mucho peso el flamenco, pero también juega un papel importante el hip-hop y la música urbana ¿Qué tienen en común estos dos géneros?

Tienen mucho en común, sobre todo en su espíritu. El hip-hop nace de los suburbios y de la mezcla social de latinos, negros y blancos en Estados Unidos, fusionando, peleando con el baile, con la música y mezclando beats electrónicos y beats de raíz africanos, latinos o de donde vengan. Todo ello sumado a una forma particular de escupir con la palabra toda la injusticia que puedes vivir en tu barrio, en tu casa, en la cárcel o en tus problemas.

El flamenco es un poco lo mismo. El quedar en el parque con la guitarra, tocar, hablar de las injusticias que ves y pasar el rato. Es un arma o vía de desarrollo de la juventud que está todo el día en el parque sin hacer nada porque no hay una oferta de trabajo ni posibilidad de desarrollo para ellos.

El flamenco nació como la queja de una sociedad rural y el hip-hop como la queja de una sociedad urbana.


Ambos son una queja. El flamenco nació como la queja de una sociedad rural y el hip-hop como la queja de una sociedad urbana. Tanto en el hip-hop como en el flamenco está la parte dura de quejío, de protesta, que en el flamenco serían la seguiriya o la soleá y la parte de celebración, de fiesta, de disfrutar, que en el flamenco serían las alegrías y las bulerías.


Y hablando de flamenco. Si en "Techarí" colaboró Pepe Habichuela en este "Aocaná" lo hace Duquende ¿Cómo ha sido la experiencia?

Duquende tiene el arte y el don del cante y además es una persona abierta. La grabación no fue nada forzada. Fue ponerle el tema a Duquende, abrir el micro, abrir la boca Duquende, decir voy a probar y ya está. La toma de prueba, la buena. Era un elemento que entraba en nuestra música muy fácil. Lo difícil hubiese sido grabar con Montserrat Caballé o con otro artista que no tuviese que ver nada que ver con lo nuestro.

Empezasteis como un grupo de amigos de barrio y ahora sois una de las bandas españolas más internacionales, uno de los principales embajadores de la música española.
Ojos de Brujo
Ojos de Brujo





Curiosamente sin hacer flamenco propiamente dicho hacemos de embajadores del flamenco. Puede que para la gente de fuera sea mucho más audible y digerible lo que nosotros hacemos en rumba, en bulería o en soleá que lo que hace un cantaor jondo. Somos una vía para que ellos luego se interesen por Camarón, por Paco de Lucía y por el flamenco más profundo.

Ahora se ve natural que un músico flamenco vaya con batería, bongos, cajón, bajo eléctrico, etc.; pero en su momento se miró mal a Camarón, a Paco o a Ketama por arriesgarse y utilizarlo, y mira ahora. A nosotros algunos también nos han mirado raro y han dicho que qué es eso de hacer scratching por bulerías. Te has de arriesgar. Rompes moldes para que otros vengan y sigan haciendo.

El flamenco yo creo que, por mucho que insistan en decir que es una música pura, es una de las músicas más bastardas que existe.


El flamenco yo creo que, por mucho que insistan en decir que es una música pura, es una de las músicas más bastardas que existe y que más ha pillado de todos los sitios. De ahí su riqueza. En una música que, como casi todas, sigue en evolución. Es cierto que hay una raíz de un tiempo y un momento concreto, pero la vida sigue.

Ahora estamos con los cacharrines. Antes había sólo guitarra y palmas y no había electricidad. Pero ahora estamos con los ordenadores, todo el día enganchados a Internet y rodeados de aparatos. Está la guitarra y el cante que por si solos te ponen los pelos de punta, pero también están las maquinitas. ¿Por qué no se pueden utilizar las dos cosas a la vez?


Ojos de Brujo es un grupo que se caracteriza por su compromiso social y medioambiental ¿Cómo vivís la actual y omnipresente crisis?

Nosotros mientras la crisis no sea de valores o creativa… La crisis es económica y las causas son más que lógicas. El que lo quiera entender, allá él. Lo que debemos hacer es querernos más y respetarnos más.

¿A lo mejor tendremos que hacer más bolos porque no hay presupuesto y nos tienen que pagar menos? Pues bueno, pues haremos más conciertos y ya está. La crisis de momento es económica, la crisis gorda llegará cuando la gente no tenga valores para compartir las cosas con el que tiene a su lado. Ojalá esta crisis sea un poco terapéutica en este sentido y nos valga para darnos cuenta de que la economía no lo es todo y que hay otras cosas mucho más importantes.


Coisas com Duende:
www.ojosdebrujo.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

V Festival de Flamenco - Almada



V Festival de Flamenco
Música e Dança

25 e 26 de Setembro 2009
Horário - 21h30
Local - Fórum Municipal Romeu Correia, Almada

Durante dois dias, sempre às 21h30, o Flamenco vai estar em destaque no Fórum Municipal Romeu Correia.
O Fórum Municipal Romeu Correia recebe, nos dias 25 e 26 de Setembro, a quinta edição do Festival de Flamenco de Almada, um espectáculo de cor, música, dança e muito salero.

No dia 25 pelas 21h30 é apresentado Amira, um espectáculo que conjuga duas culturas musicais, a música árabe-andalusi e o flamenco puro. No dia 26 de Setembro, também pelas 21h30, é apresentado um espectáculo, Alma Flamenca, que faz um percurso pelos diferentes géneros de flamenco incluindo solos de cante e guitarra.


Programação

Dia 25 Setembro
Amira
21h30 - Fórum Municipal Romeu Correia

Dia 26 Setembro
Alma Flamenca
21h30 - Fórum Municipal Romeu Correia

organização
Câmara Municipal de Almada
Fórum Municipal Romeu Correia

condições de participação
Bilhete para cada um dos espectáculos: €7
Espectáculo para maiores de 6 anos
informações

Fórum Municipal Romeu Correia
Praça da Liberdade
2800 - 648 Almada
Tel.: 21 272 49 20
Fax: 21 272 49 49
email: bibl.mun.alm@cma.m-almada.pt
sítio: www.m-almada.pt/bibliotecas