terça-feira, 2 de dezembro de 2008

As Araquerar pelas Araquerar: Muito mais do que bailar sevilhanas

"Era só para aprender a dançar sevilhanas. Algo que queria fazer há que séculos. As desculpas do costume, da falta de tempo, dos horários…blá…blá…

As aulas da Sónia foram ‘descobertas’ pelo meu marido. Numa tarde de sábado levou-me ao ginásio MSport para saber informações e falar com a professora.

Assisti à aula, encantada com as alunas a dançar de saias compridas e flores na cabeça. A professora baixinha e vestida de preto, explicou-me que em Setembro iria começar com uma turma de iniciadas. Aconselhou-me a comprar uma saia e sapatos próprios para dançar flamenco e sevilhanas. Despedi-me com votos de boas férias e com a promessa de me inscrever em Setembro.

Na primeira aula lá estava eu, com espírito de arranque de ano lectivo, e vestida com uma mega saia preta com dois folhos, de sapatinhos de salto e com piquinhos na sola.

No fim da primeira aula saí toda entusiasmada e com aquela sensação maravilhosa quando começamos a aprender algo novo. Isto vai lá…é preciso é ter calma.

Um mês depois o balanço era aterrador. Os meus pés não obedecem e afinal Darwin tem razão…porque a elegância com que tentava dançar era próxima à de um orangotango. Caramba! E eu que gosto tanto de dança… A coisa não ia lá. Mas forreta como sou e com o dinheiro que tinha gasto na Ballet Etc com a fatiota que estreei no primeiro dia de aulas, jurei a mim mesma que só desistia depois de romper os sapatos e a saia. E até lá, alguma coisa iria aprender.

No meio destas batalhas internas fui metendo conversa com a professora, com as outras alunas. Fui-me ambientando.

Um dia perguntei à professora como é que tinha surgido o gosto pelo flamenco. Se era filha de espanhóis ou se era cigana. Com um sorriso meio tímido, meio orgulhoso e olhos a brilhar respondeu: “Sou cigana”.

Fiquei fascinada. Contei ao meu marido mal saí da aula que a minha professora era cigana e fiquei hiper-curiosa (sou muito cusca e até faço disso profissão). Qual seria a história desta cigana que me ensinava todos os sábados a sua cultura através da dança?

A partir daí comecei a olhar com atenção para ela e não apenas para os pés para aprender a dançar a 1.ª sevilhana. Não correspondia a nenhum dos estereótipos que a comunidade dominante (uma expressão que aprendi a usar com ela) tem dos ciganos e das ciganas. De facto tem uns cabelos bonitos como sempre associamos a todas as ciganas. Mas de resto é tão parecida com as pessoas da sua idade e que não são ciganas. Conduz, trabalha, cuida-se, arranja-se… E mais do que isso, empenha-se em melhorar as condições de vida das suas gentes. E vem até à comunidade dominante, dar a conhecer a sua arte de bailar. Este mesmo baile que Espanha adoptou como seu. Aproxima-se de mim e faz-me chegar até ela, à sua gente, dá-nos um nome romani para nos reunirmos à volta da sua dança e da sua cultura.

O que era para ser um hobbie acabou por ser muito mais do que eu esperava de umas aulas de dança. Gosto de fazer parte das Araquerar por muitas razões. Pelo bem que me faz dançar, pela cumplicidade, por reunir pessoas tão diferentes umas das outras. Mas o que me fascina neste grupo de mulheres lideradas por uma professora cigana é a oportunidade de conhecer muito mais do que o flamenco, essa arte tão difícil de dançar, porque nos pede que o façamos com alma, coração, força, desejo, pés, braços, corpo, tudo o que temos dentro de nós!"

Isa Amaral

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem soy yo?
Se calhar nem tu nem eu sabemos o que nos aficciona todas as 4as naquela sociedadde, será o gosto pelos acordes das violas? ou talvez aqueles sons não nos serem estranhos? a mim que dizem ser descendente de algumas gerações atrás de raça cigana, pelo menos o boato corria na aldeia onde a minha biza morava....
Talvez por isso, que a música a cultura e alguns sitios de nuestros hermanos me provocavam deja vu sempre que a minha alma se cruzava com eles...
Porquê este fascinio? Será pelo gosto de bater os pés até me doerem tanto com ultimamemte, ou pela liberdade do corpo e da alma quando se ouve os acordes das violas? Que para mim são como electrodos para o meu corpo, só tenho pena de ele por vezes não obedecer ao que a mente precisa para viver....
jocas até 4ª.