Não sabiam de onde vinham. Mas sabiam quem eram.
Desde que se recordavam, sempre tinha existido.
Desde que se recordavam, o mundo era a sua casa, mas a sua morada não residia em parte alguma. Empurravam-na consigo pelas paragens do Destino. Pelas paragens, onde paravam mas não permaneciam. Empurrados ao sabor do vento, movidos por um desejo de Liberdade ou, simplesmente, pelas vontades daqueles que não os deixavam ficar.
Foi assim que conheceram as planícies. Atravessaram cordilheiras. Desceram aos mais profundos vales. Subiram às altas montanhas e aproximaram-se dos céus. O mesmo céu companheiro que lhes dava cobertura. Dia após dia. Noite após noite. O céu por cima de si. Os trilhos vincados deixado atrás de si. Marcas deixadas pela roda da Fortuna. Marcas de quem vive no improviso dos dias não planeados. De quem vive ao sabor da corrente dos rios onde se banham as crianças, enquanto as mães lavam o pó da estrada das roupas, que ainda deixam adivinhar as cores vivas que um dia tiveram.
Quando se detinham em alguma parte, faziam desse local transitório a casa que não chegava a ser, a pátria que não chegaria a ser. A sua pátria é maior do que qualquer fronteira geográfica e temporal. A sua pátria é em toda a parte e em parte alguma. E por isso se sentem sem ela e a sentem a cada instante, porque ela é onde eles estão e onde estão aqueles que amam.
As noites iluminadas pelo luar, aquecidas pela fogueira e animadas pela música. Entrançadas nos seus acordes, cantam-se as histórias de quem não escreve, mas que transporta consigo todo o seu povo. Cantavam e dançavam. Aplaudiam a vida na sua dupla face, Alegria e da Tristeza. Palmas que marcavam o ritmo da vida. Que incitavam à sua dança perpétua.
Essa era a sua força. Não sabiam de onde vinham. Mas sabiam quem eram e de tudo faziam para nunca o esquecer. Porque sempre tinham existido e sabiam que iriam existir para sempre. Enquanto houvesse um céu sobre si e uma estrada a percorrer.
História penada por James Starfield