terça-feira, 13 de outubro de 2009

Guitarra Portuguesa


Num blog que pretende partilhar ideias e sentires sobre comunidades ciganas e flamenco, esta história será uma excepção. Ou não... Digam-me vocês!

No Sábado tive o prazer (mais uma vez) de assistir ao Projecto Conhecendo Paredes/Afinidades do meu amigo/ex-colega/compadre/padrinho/jaleador esporádico mas incontornável deste Caderno - Pedro Antunes- e do seu amigo João Fernandez.

E à medida que a música das guitarras preenchia o espaço, assombrava-me uma vez mais com a "afinidade" entre aqueles sons e os sons mais jondos do Flamenco. E voltou-me a vontade de descobrir as fronteiras entre o Fado e o Flamenco. Existem? Existe uma alma Ibérica? A Dulce Pontes e a Estrella Morente consideram que sim, a avaliar pelo Projecto Fadenco Dulce Estrellla que desenvolveram em 2008.

Eu vou continuar a desafiar (leia-se, moer) o Pedro para que escreva sobre o assunto, aqui para o La Payita. Ou sobre outra coisa qualquer. Porque este payito é assim... Pode escrever sobre a música ou sobre o seu caminho cigano (com breves mas inesquecíveis incursões pelo baile flamenco... eheheh). O repto está lançado! Mais uma vez...

Por agora, e enquanto ele remói o assunto, que já deve estar a ver tudo negro... ayayayyy, deixo-vos o link para irem espreitar o Projecto. É só clicar em http://www.guitarraportuguesa.net/, ouvir as músicas que estão disponíveis em Download ou ver o vídeo que está na Galeria.

Pedro Antunes! Ficamos à espera. Da tua história cigana. Da partilha dos saberes sobre as guitarras (e não violas, isso já aprendi!!!). De te ver e ouvir num vídeo um "bocadito melhori". Um Olé com Duende para ti! Evidentemente! :)


2 comentários:

Pedro Antunes disse...

A origem do Fado perde-se no tempo, tal como a do flamengo, mas posso afirmar-te que existe uma raiz indo-europeia que é transversal a ambos os estilos.
Ambos identificam sentimentos de nostalgia, tristeza, abandono mas tambem alegria e festa. No fundo, cristalizam em si os momentos chave das vidas dos individuos que, ao longo dos tempos, continuam a fazer sentido no contexto social de um povo. Nessa dimensão, partilham semelhanças com muitas produções culturais (musicais) em todo o mundo, como o tango, samba, klezmer, Sufi, e muitos outros.

No entanto, na minha opinião, o flamenco revela-se, em termos de análise musical, mais rico do que o fado, uma vez que a dimensão ritmica, harmonica e melódica é mais elaborada e diversa. Quanto ao valor expressivo, a análise é sempre subjectiva, estando sujeita ao gosto pessoal e à capacidade dos interpretes/compositores. Em pormenor, na análise do canto, existem afinidades que foram sendo introduzidas pelo contacto proximo entre as duas culturas. A Amália, por exemplo, era conhecida pela forma como "enrolava" as melodias, "como se fazia nas beiras" dizia. Era uma influencia indirecta do flamenco. Os exemplos inversos tambem se conseguem encontrar, não duvido, se bem que não tenho conhecimento para aqui o demonstrar. Talvez alguem mais habilitado possa elaborar sobre este assunto...


Da minha parte tenho paixões fortissimas em ambos os universos. Para mim, tenho que sentir na arte um reconhecimento de algo que é maior do que nós e nos une a todos os outros seres, vivos ou não, que compõem o espaço/tempo como o experiênciamos. E isso, ou está lá, ou não.

Abraço, com duende e alma fadista!

El B disse...

Eu também partilhei desse enorme prazer que foi assistir (pela primeira vez, no meu caso) ao projecto Conhecendo Paredes/Afinidades.

Assistir ao Pedro Antunes a tocar guitarra, é algo que felizmente já tinha tido a grata oportunidade presenciar.

Este comentário é, precisamente, para ele, em particular e para o Conhecendo Paredes/Afinidades, em geral.

Não comentarei aqui pormenores técnicos acerca do fado e do flamenco, nem sobre as suas supostas raízes comuns. Porque nada sei acerca do assunto e do ponto de vista musical não distingo um Ré do Fá ou de um Si.

Limitar-me-ei ao que senti.

Durante a actuação, em alguns momentos senti as lágrimas a "assomarem-se à janela". E só não se desprenderam ao som de alguns acordes, porque a contenção veio em meu auxílio.

Igualmente positiva é o introito feito a cada tema. Não só aprendemos algo mais, como nos permite compreender muito melhor e sentir o tema propriamente dito.

Dizia, e com toda a razão, Pedro Antunes que neste país só se valorizam as pessoas depois destas morrerem. Aconteceu com Camões. Aconteceu com Pessoa. Aconteceu com Bocage. Aconteceu com tantos outros, tal como aconteceu com Carlos Paredes. Esse nome ímpar e incontornável da música portuguesa que este projecto recusa a que caia no esquecimento. E fá-lo de uma forma invejável.

Na sala alguém disse que, tendo fechado os olhos, juraria que era Carlos Paredes que ali estava a tocar.

Efectivamente, ele estava ali. Invocado nos acordes. Invocado nas histórias. Invocado no sentimento da Saudade e do Fado.

Um abraço, não sei se com duende, se com Alma Fadista, se com Musa. Seja com o que for que inspire estes músicos a dar continuidade a algo tão belo.